O uso de TIC para jovens e crianças

A questão do uso das TIC não está em proibir ou liberar, mas em controlar e mediar o uso.

Reflective Practice March 18, 2020

Estamos em uma revolução tecnológica intensa. Cada dia são lançados aparelhos mais sofisticados, mais potentes, mais diversificados e completos. De fato, as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) oferecem facilidades, rapidez, conforto, entretenimento, informação e conteúdos variados que todos nós conhecemos e apreciamos no cotidiano. Muitos pais desejando aproveitar as vantagens que a tecnologia oferece, fazem um esforço de prover a seus filhos aparelhos como tablets, smartphones ou computadores. Inclusive atualmente há um grande incentivo de instituições públicas e particulares para o uso das TIC na educação. Mas será que sempre é vantajoso o seu uso? Jovens e crianças precisam utilizar tanto as TIC?

Em uma entrevista com Steve Jobs, ainda vivo e CEO da Apple, publicado no The New York Times [1] em 2010 (ano de lançamento do iPad), foi perguntado se seus filhos estavam contentes com o uso dos iPads, e a resposta foi: “Eles ainda não usaram. Limitamos quanta tecnologia nossos filhos usam em casa”. Jobs, dono de uma das mais promissoras empresas de tecnologia, foi um pai que limitava o uso da tecnologia em casa o que parece ser um paradoxo, já que muitas vezes os iPads são mostrados como ferramentas para o melhor aproveitamento do aprendizado e leitura de livros. Não somente Steve Jobs, mas vários outros CEOs de grandes empresas ligadas à tecnologia como Chris Anderson, ex-editor da Wired; Evan Williams, fundador do Blogger, e outros são citados no artigo como pais que têm a mesma conduta.

Por que diretores de grandes empresas de tecnologia limitam seus filhos ao uso da tecnologia que eles mesmos desenvolvem? A maioria das pessoas pensa o contrário, achando que quanto mais investirem em TIC de última geração, mais desenvolvimento e informação poderiam proporcionar aos seus filhos. Entretanto os executivos dessas empresas de tecnologia localizadas no Silicon Valley, enviam seus filhos para estudarem em escolas como a Waldorf – em que 75% dos alunos são filhos desses executivos – e outras do gênero, que não fazem uso de TIC para seus alunos [2]. Os perigos a que eles se referem incluem a exposição a conteúdo nocivo, como pornografia, bullying e, talvez o mais preocupante para eles, o vício em seus dispositivos. Como o próprio autor do artigo, Nick Bilton, conclui em sua matéria – “No entanto, esses CEOs de tecnologia parecem saber algo que o resto de nós não sabe” [1].

Neste ano, pesquisadores da Universidade de Alberta no Canadá realizaram uma pesquisa com 2.400 famílias. A pesquisa concluiu que crianças em idade pré-escolar que passam duas horas ou mais em frente a uma tela por dia podem ter problemas comportamentais clinicamente significativos comparado às crianças que ficam menos de 30 minutos. As crianças que estavam expostas a mais de duas horas frente a uma tela, tinham cinco vezes mais probabilidade de apresentar problemas como a falta de atenção, hiperatividade e oposicionismo, e de sete vezes mais probabilidade de desenvolver transtorno de déficit de atenção com hiperatividade.

A questão do uso das TIC não está em proibir ou liberar, mas em controlar e mediar o uso. Já são conhecidos os benefícios e também as consequências do uso na mente de jovens: longos tempos gastos que poderiam ser investidos em tarefas mais produtivas, desinformação e fake news, depressão e inveja, ansiedade e imediatismo de resposta, cansaço e alterações na qualidade do sono causada pela luz das telas, problemas de visão, sedentarismo, dificuldade de concentração, dificuldades de relacionamento e isolamento social, indisciplina na escola [3] [4], mas é necessário uma conscientização. Muitos têm dificuldades de desenvolverem hábitos de leitura e estudo sistemático dos conteúdos ensinados nas escolas, por desinteresse e baixa concentração causada pelo excesso de filmes, jogos e redes sociais.

Estas considerações devem levar a uma reflexão para todos nós, especialmente para conscientizar os pais sobre a importância do controle do uso desses aparelhos e a qualidade do conteúdo que jovens e crianças consomem. Os pais podem ainda, cultivar hábitos que diminuam a probabilidade de seus filhos tornarem-se dependentes em tecnologia, como atividades esportivas, horário de dormir para boa qualidade do sono, alimentação saudável, bom relacionamento familiar e amizades, estudo da Bíblia, e etc [3].

Ellen G. White, no livro Conselhos sobre educação (pág 107) diz: “Quanto mais calma e simples a vida da criança, isto é, mais livre de excitações artificiais e mais de acordo com a Natureza, mais favorável é para o vigor físico e mental e para a força espiritual”.

Referências

[1] N. Bilton, “Steve Jobs Was a Low-Tech Parent,” The New York Times, pp. Seção E, página 2, 10 setembro 2014.

[2] E. YATES, “This Silicon Valley school shuns technology — yet most of the students are children of tech execs,” Business Insider, 24 março 2017.

[3] M. BORGES, Nos bastidores da mídia: como os meios de comunicação afetam a mente., Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2005.

[4] Redação Galileu, “Vício em tecnologia pode estar ligado a quadros de depressão e ansiedade,” Galileu, 12 abril 2018.

Author

Luiza Dumont

Luiza é licenciada em Química com mestrado em Agroquímica (Universidade Federal de Viçosa). Atualmente é professora do Colégio Adventista da Tijuca – Rio de Janeiro, Brasil.

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